sexta-feira, 22 de março de 2013

Entrevista ao Jornal "O Templário"

Anabela Freitas, candidata apoiada pelo PS à Câmara de Tomar

Ouvir e decidir ‘Os outros candidatos são velhas soluções para novos problemas’


Anabela Freitas, 46 anos de idade, técnica de emprego do IEFP, a exercer funções no Serviço de Formação Profissional de Tomar, no âmbito da sua formação base em recursos humanos terminada no Instituto Politécnico de Tomar, está a fazer o mestrado em Gestão de Recursos Humanos, no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), faltando entregar e defender a tese. Tem um filho com 10 anos, e foi deputada à Assembleia da República, eleita pelo Círculo Eleitoral de Santarém, entre 2009 e 2011, tendo já em 2012 retomado essas funções, em regime de substituição, por um mês. É a candidata à presidência da Câmara apoiada pelo Partido Socialista, nas próximas eleições autárquicas. Esta semana é a nossa entrevistada.

Quais os motivos que a levaram a candidatar-se à presidência da Câmara de Tomar?
Nasci em Tomar, cresci, estudei, vivi e vivo em Tomar, hoje, considero que o nosso concelho está muito mal, quer em termos de gestão municipal, quer em termos de vivência. Temos uma cidade lindíssima, um concelho cheio de potencial e não conseguimos tirar partido disso. Considero que houve um conjunto de decisões erradas, de modelos de desenvolvimento errados, que quase não passaram de obras ao acaso. Não houve um fio condutor, não houve, nem há uma estratégia que possamos dizer estamos a fazer isto para que daqui a 10 ou 20 anos, o Concelho esteja desta ou daquela forma.

 
O facto de ser mulher não é um handicap num concelho conservador como o de Tomar?
Eu acho que o eleitorado é algo conservador, mas também acho que o eleitorado pensa outra coisa: muitas das decisões que são tomadas, têm falta de bom senso. E conto com o bom senso, característica eminentemente feminina, para guiar a minha futura acção como Presidente da Câmara.

Independentemente de quem vencer as eleições, a gestão autárquica será nos próximos anos, devido à situação económica do país, muito limitada. Qual a sua opinião?

A autarquia está numa situação financeira complicada, e portanto não vou prometer aquilo que não posso fazer. Entendo que em muitas das decisões é necessário sentarmo-nos todos à mesa e conversarmos. É fundamental a criação de pontes e redes. Assumo que essa será uma mudança real que operarei na gestão municipal.



O que é que a Anabela Freitas tem, que a diferencia dos outros candidatos?

Devemos procurar os aspetos positivos, as posições que nos fazem gerar consensos. E eu considero que tenho essa capacidade de conseguir gerar consensos. Tomar precisa de começar a trabalhar em parceria, aproveitar o que de melhor tem cada instituição, associação, coletividade. Também entendo que sendo eu tomarense, nasci, cresci e vivi em Tomar, chegou a hora de querer retribuir, tudo aquilo que a terra me deu.


A sua capacidade de gerir consensos é a sua mais-valia em relação aos outros candidatos?
As minhas mais-valias são essencialmente duas: capacidade de gerar consensos e a de criar pontes. E em segundo lugar, considero que os outros candidatos são velhas soluções para novos problemas. O modelo de gestão das Câmaras dos últimos 25 anos, não pode ser o modelo para os próximos 10. Tudo tem de ser diferente, a começar pela atitude dos gestores públicos. O atual presidente de câmara e recandidato do PSD, já está na autarquia, há 16 anos, e por isso já teve muito tempo de fazer alguma coisa por Tomar, numa altura em que o tempo era de vacas gordas. Agora, passou o seu tempo.


Se ganhar as eleições autárquicas, quais serão as primeiras medidas que vai implementar?
Defendo que se tem que atuar a três níveis: nível interno, a autarquia precisa de uma grande volta internamente. Considero que a autarquia está voltada para si própria e não está focalizada para fora, para o serviço aos munícipes. É urgente a busca de investimento. Como? Temos que criar um pacote atrativo. Precisamos de “vender” Tomar em pacote. Alterar o regulamento da zona industrial, passar de zona industrial a parque empresarial e atualizar o regulamento para a instalação de empresas que existe. Temos que fazer mais parcerias com o Instituto Politécnico, desenvolvendo as já existentes. Existe um polo de ensino superior em Tomar, e isso é uma mais-valia para se puder vender lá para fora a marca de Tomar. Ao mesmo tempo, temos que acarinhar as empresas que estão cá. Muitas delas têm em curso processos de licenciamento há anos, quer seja licenciamento de atividades ou novas instalações. O terceiro nível em que devemos atuar, é a nível externo, com o posicionamento de Tomar na região do Médio-Tejo. Todos sabemos que temos vindo a perder terreno. Outra das áreas prioritárias é a questão social. Nós estamos perante novos casos de pobreza, de pessoas que tinham vidas perfeitamente organizadas, e que agora porque um dos membros ficou desempregado, ou até os dois, se vêem em situações complicadíssimas. E é preciso aqui encontrar novas respostas.
 

Tem algum projeto que vá fazer de bandeira na campanha eleitoral?
Eu adorava poder construir um mercado novo, mas eu sei que não tenho há neste momento dinheiro para o fazer. Na minha perspetiva o que, é necessário é a atração de investimento, e aí não podemos ser esquisitos, em tempo de guerra não se limpam armas, e todo o investimento que venha para Tomar, é bem-vindo. Só com o aumento da criação de postos de trabalho em Tomar, conseguiremos fazer obras de fundo, quer sejam as do mercado, quer sejam outras quaisquer. Este não é o tempo de promessas de obras, mas sim o da aposta nas pessoas e nas suas vidas. Para essa mudança, contem comigo.


Dentro do Partido Socialista a sua candidatura é pacífica? Dentro do Partido Socialista a candidatura foi pacífica. Pouco antes de eu ser indigitada para candidata, o partido alterou os seus estatutos e nós tivemos que aplicá-los. Fui a única a apresentar-me e tive a unanimidade dos que puderam e quiseram participar.


O que é pode adiantar sobre os nomes da lista, para além do seu?
Quando me candidatei, disse várias vezes, e fui clara dentro do partido: o PS lidera o processo, mas isso não quer dizer que a candidatura seja só apoiada pelo PS ou por socialistas. Entendo que da mesma maneira que os problemas só se resolvem em rede, defendo que devemos ir buscar a Tomar o que ela tem de bom. Defendo que as listas não podem ficar fechadas a um único pensamento ou matriz ideológica. Quando em 1976 o PS candidatou o independente Luis Bonet, fê-lo por serviço a Tomar e quando em 1989 o voltou a fazer, com o independente Pedro Marques, fê-lo na convicção de que os socialistas em Tomar são muitos, mas não os suficientes para conquistar a Câmara.


Quer dizer que vão incluir nas listas independentes?

Eu defendo que sim. Até porque se tal não acontecesse o meu discurso seria incoerente. Defendo a maior abertura possível a todos que sejam uma mais-valia na vida autárquica.


Caso ganhe o PS, está aberta a coligações?

Eu estou sempre aberta a tudo. No dia em que fui indigitada como candidata a Presidente da Câmara de Tomar, apoiada pelo PS, disse que iria falar com todas as forças políticas. Dada a situação de emergência que o Concelho vive, face à má gestão de 16 anos do PSD, fomos compreendidos por algumas forças políticas, se bem que por via das suas estruturas nacionais não puderam aceitar um compromisso mais formal, mas eu mantenho abertura para tudo. Considero fundamental que arranjemos uma equipa, onde as pessoas se revejam, e que sintam que “estes vão mesmo trabalhar”.


Qual a sua principal crítica sobre o negativismo que se abateu sobre Tomar?

O negativismo tem sobretudo a ver com o fato de não existir nem visão, nem estratégia. Os tomarenses não vislumbram a “luz ao fundo do túnel”. Na realidade não temos conseguido captar financiamento, criar postos de trabalho, enfim fazer o nosso concelho funcionar e brilhar, como no passado.

 
Mas esse é um problema que também assola o país?!

O problema não é só de âmbito nacional. Qualquer empresa que se quer instalar num concelho, é normalmente recebida de braços abertos. Eu pergunto, por que razão, é que aqui em Tomar, estão meses há espera para serem recebidos? Tivemos empresas que se quiseram instalar, e depois foram instalar-se para o concelho vizinho de Ferreira do Zêzere. Temos que criar alguns incentivos. Também as candidaturas a financiamentos públicos, nacionais e da União Europeia, têm de ser muito bem estudados, discutidos publicamente, para sejam efetivamente estruturantes e envolvam todos os seus agentes executores. O que está a ser realizado, com o apoio do QREN em Tomar, não teve qualquer discussão pública e foi unilateralmente imposto por quem governa a Câmara. Para mim, mudança não é apenas uma palavra, mas sim uma linha de atuação.

 
Qual a sua opinião sobre os aspetos culturais de Tomar, têm sido bem aproveitados? Eu concordo que um dos pilares de desenvolvimento do nosso concelho seja o turismo. Nós somos o concelho do distrito com o maior número de associações, mas não temos sabido aproveitar devidamente isso. Nós temos o Convento de Cristo e vivemos de costas voltadas para esse vastíssimo património. O que é que adianta ter este património associativo, cultural, ambiental e monumental se não o publicito? Tudo o que é marketing para mim não é considerado um custo, mas sim um investimento. Temos que saber “vender”. Por exemplo, em Fátima não temos um único outdoor, ou outro qualquer suporte, a publicitar a importância de Tomar, ou a sua proximidade. Temos que criar roteiros pela nossa cidade, pelo nosso concelho de forma, a que as pessoas fiquem cá dois, três dias pelo menos


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